r/EuSouOBabaca • u/EberoBC • 16h ago
Sou babaca por ter "devolvido" minha namorada para os pais?
Essa é uma história de como o Tiktok acabou com um relacionamento. Prévio aviso de que a história é um pouco longa e envolve intrigas que podem ser consideradas fúteis. Dito isso, sou um homem de 30 anos e desde o ano passado tenho me relacionado com essa mulher de 23. Nos conhecemos em um jogo online despretensiosamente e acabamos nos encontrando pessoalmente. Tudo correu bem e a conversa foi boa. Nós sempre fomos muito honestos sobre nossas aparências, qualidades e defeitos, então nesse sentido não houve nenhuma surpresa.
Ela mora em uma cidade do interior e eu em uma cidade maior, com mais oportunidades. Também não nasci aqui, vim quando tinha 22 para fazer faculdade (pública). Cheguei quase sem nada e, sinceramente, tinha tudo para dar errado, mas deu até que certo. Não fiquei rico nem sou hiper-bem-sucedido, mas tenho o básico para me manter e pagar alguns luxos.
Por causa disso, quando ela comentou que estava estagnada, que não conseguia faculdade nem trabalho na cidade onde mora, eu fiquei muito contente em ajudar. Às vezes, a pessoa só precisa de um incentivo para deslanchar na vida. Ela poderia morar no meu apartamento, fazer o vestibular e estagiar, certo? E embora, hoje, obrigatoriamente, eu seja obrigado a pensar nessa dinâmica de homem maduro sustentando mulher nova; na época eu não pensei nisso, eu genuinamente pensei que que ela não precisava passar por todas as privações que eu passei para me formar.
E esse foi o início do meu inferno.
Nas primeiras semanas tudo deu certo. Eu ia trabalhar, ela ficava no apartamento, quando eu voltava cozinhávamos juntos e conversávamos sobre aleatoriedades. Depois de um tempo percebi que ela passou a cozinhar antes da minha chegada. Quando abria a porta, a louça já estava até limpa e guardada. Enquanto eu fazia minha janta, sentia olhares raivosos vindo dela, mas não conseguia entender o motivo.
Daí para frente, qualquer atividade que ela fazia em casa vinha com um discurso incluso. Se ia passar o aspirador, era um discurso de como estava tudo empoeirado e só ela poderia passar o aspirador. Se ia lavar a louça, das dificuldades de tirar uma mancha. Depois passou a dizer que eu não fazia nada em casa. O que absolutamente não era verdade.
A verdade é que ela não fazia nem metade das tarefas domésticas. A diferença é que eu fazia em silêncio. No dia da faxina, eu perguntava quais atividades ela queria fazer e ela sempre escolhia as mais leves. Nunca comentei sobre isso porque o apartamento é minha responsabilidade, não dela, e também porque não ligo de limpar e também porque queria agradar.
Depois percebi que enquanto eu trabalhava ela passava o dia vendo Tiktok de donas de casa insatisfeitas. Por algum motivo misterioso que até hoje não entendo bem, ela decidiu encarnar o personagem dessas mulheres que ela estava assistindo.
Nesse ponto sou obrigado a justificar que não invalido a dificuldade das mulheres que passam o dia cuidando de casa e dos filhos. Sei que é um trabalho cansativo, em tempo integral e sem remuneração. O que digo é que nunca foi o nosso caso: não temos filhos, o apartamento se mantém relativamente limpo durante a semana e muitas vezes ela nem se levantava para fazer o almoço, já que o ifood existe. Ela simplesmente resolveu imitar o que estava assistindo e quando eu chegava do trabalho, tinha que aguentar os olhares raivosos e as frases passivo-agressivas da personagem que ela resolveu adotar.
Com o passar dos meses, percebi que ela não estava estudando para o vestibular. Quando questionei, ela ficou muito irritada, disse que estudaria apenas três meses antes da prova. Eu não concordei, já que a faculdades públicas são muito concorridas. Discutimos muito. Ela falou toda uma miríade de argumentos sobre aprendizado até que eu ficasse exausto demais para argumentar mais. A partir daí eu virei o opressor.
Enquanto eu trabalhava, ela passava o dia no Tiktok descobrindo as diversas maneiras que poderia me considerar opressor. E desse ponto em diante também começou a envolver as amigas e a mãe. Gravava áudios enumerando meus defeitos, falando bem alto, pra eu ouvir. Quando eu chegava do trabalho, era uma avalanche de frases feitas de Tiktok de como eu oprimia a individualidade dela, que eu queria enquadrá-la no "sistema comum", que ela era muito melhor do que isso. Disse que me acostumei com a rotina, que não tenho ambição, que sou medíocre e que ela vai brilhar e ter o nome lembrado depois que morrer (numa vibe bem Pearl).
Sei que o texto está longo, mas já está acabando.
Mesmo depois disso, nós continuamos juntos. As discussões eram diárias e exaustivas, mas a situação nunca chegava ao ponto de explodir. Nós parávamos antes disso. Até que ela começou a assistir os tiktoks sobre traição.
Sim, ela se convenceu de que eu estava traindo e começou a procurar provas.
Fez todo o tipo de coisa. Esperava eu dormir para ler meu whatsapp (eu mesmo mostrei qual era a senha do meu celular para ela uns meses antes), tentava interpretar duplo sentido em frases corriqueiras, checava horários, começou a me buscar no trabalho. Me fez bloquear algumas colegas de infância que eu já não conversava há anos. Implicou com cada mulher que conheço. Até que um dia eu dei um basta. Disse que não bloquearia mais ninguém, e que ela confiasse ou fosse embora. Ela me olhou com raiva e ficou em silêncio.
Mas só ficou em silêncio até o momento certo. Mais tarde, quando fomos para um shopping, ela resolveu mostrar todas as suas frustrações para o mundo. Na frente de todos, que olhavam, atônitos, ela gritou, gesticulou, jogou o celular no chão, falou todo tipo de coisa. Eu, naturalmente reservado, só pedia "por favor fale baixo, por favor fale baixo" e quanto mais eu falava mais ela ficava contente em gritar.
Quando tudo acabou, voltamos para o apartamento. Pedi imediatamente que ela voltasse para a casa dos pais. Ela chorou, disse que eu estava a tratando como um objeto que não serve mais, disse que ser expulsa era humilhante. Sinceramente, depois das lágrimas eu quase desisti da ideia mesmo. Me mantive firme por pouco.
Obviamente, maioria dos envolvidos na história acham que estou errado. Recebi mensagens bem duras da mãe dela e parece que, para todos, agora, nossas idades importam. Quando o namoro começou, nossas idades pareciam não fazer diferença, não ouvi se quer um comentário, mas agora sou lembrado disso o tempo todo. Agora sou o homem que iludiu uma jovem ingênua.
O que vocês acham? Fui babaca?